quinta-feira, 26 de maio de 2011

O Silêncio

O silêncio busca o que não pode silenciar e não sabe calar.

É o grito no escuro de quem não mais tem com quem falar.

É a angustia calada do grito desistido de ser.

O silêncio não diz, mas não exclui o que há para dizer.

É o vociferar mudo que não chega aos ouvidos, mas fere o coração que anseia por soltar o que sente na alma.

Podes falar, mas de nada vale o teu tão hábil discurso que em silêncio se transforma se não tiveres a quem dizer.

O silêncio não é do falar e sim do escutar. Tu silencias a quem não mais queres ouvir.

O silêncio maltrata a quem tenta no desespero recitar a palavra que não tem por quem ser ouvida e na aflição da busca mergulha na vastidão da escuridão de não ter com quem falar.

Silencias diante do clamar que não tens como atender e de surdo te faz na tentativa de amenizar a dor de tua incapacidade.

O silêncio sufoca quem muito tem a dizer, mas consola aquele que não mais consegue dizer por que já não sabe se sente.

O silêncio é o labirinto mudo dos pensamentos que não têm forças para emergir dos devaneios das mentes que de surdas se fazem por não mais suportarem se escutar.

O silêncio tudo vê e sente na amplitude de seu perene conhecimento do saber calar.

O silêncio fala a quem a ele sabe ouvir, a quem a ele se entrega e se permiti sentir o vibrar das energias que dele emanam e transbordam como que uma avalanche que abraça o não dito e grita o que tem que dizer.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

O Nada

O que é o Nada?

O Nada é o sufocar do todo que de tão repleto perde-se no meio do Nada.

O Nada é a porta por onde foges do surtar do excesso que o todo lhe causa. É o escapar para não se afogar no mar da angustia da exigência urgente e sufocante do todo que não para de ser e de crescer.

O Nada é o parar de respirar para não morrer de viver. É o sair para poder voltar.

O Nada não é o vazio, é o espaço no meio de um todo que não sabe parar.

Quando tão perdido estás por não saberes a que parte do todo atender, vem o Nada e te salva para não extenuares na busca de satisfazer o que não és capaz pelo simples fato de não haver como, pois o todo é do infinito e tu és do mundo.

O Nada é a ausência e não a inexistência da consciência. É preciso por vezes sair de cena para um respiro dar em prol da continuidade do existir.

O Nada é um estágio intermediário, um andar do meio, um artifício para não desistir, é um dormir acordado para não ter que partir.

Quando o todo asfixia a alma e a prende na escuridão do labirinto sem que o caminho possa ver, o vácuo do Nada o protege o deixando livre para simplesmente ser e em nada ter que pensar e fazer a não ser se energizar para o todo voltar.

O Nada, não é o não ser, é o ser em out pelo momento necessário para não ter que morrer para viver.
O todo se perde no Nada no anseio de desfrutar de sua sábia inércia para poder suportar sua  própria inabilidade de ser.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Como explicar os sentimentos.


Se é que têm explicação, os sentimentos, possuem uns dos porquês mais difíceis de serem respondidos. Eles, os sentimentos, surpreendem até mesmo e principalmente quem os sente. Por muitas vezes deixa seu possuidor completamente sem ter como defini-los e entendê-los.

Os sentimentos, não têm regra nem previsão, são literalmente inconstantes e fora de qualquer previsibilidade que possas querer imputá-los. São independentes e altivos, chegam e saem sem pedir licença, simplesmente são.

Por mais que penses ter sobre eles o domínio, eles, os sentimentos, te provam a toda hora que não mandas em nada em relação a eles. Mesmo que tu, teimosamente, insistas em a eles querer dominar.

Podes até iludir-se com a frágil capa de auto suficiência que só tu enxergas, mas que é apenas um disfarce para amenizar a tua real falta de controle e incapacidade de dominar essa quase entidade, que são os sentimentos, que mandam em ti.

Os sentimentos disfarçam-se de sensíveis e domináveis, quando na crua e nua realidade são sólidos e os verdadeiros senhores e lideres da situação. E assim vão regendo a orquestra dos corações que por eles vibram na doce ilusão que a eles dominam e nesse devaneio seguem na inabalável esperança de que controlam o que não têm como evitar.

De dependentes se fazem na rica trama que tecem em busca de suas presas que de forte se fazem, mas a eles se entregam sem poder resistir ao seu canto sedutor.

E quanto mais imune se achas, mais vulnerável a eles estará. Não desafies o desconhecido que de fraco e sensível nada tem. Na verdade, os sentimentos, guardam o eterno e sóbrio brilho do mistério não revelado nem mesmo a ti que pensas poder dominá-los.

Eles escamoteiam, amaciam e quando menos esperas ali estão prontos a te abraçar com o aperto da incomoda certeza de que deles nada sabes a não ser a magia do prazer de poder tê-los e senti-los.

Eles, os sentimentos, são involuntários, independentes, inconstantes e acima de tudo imprevisíveis, porém preenchem o vazio que inevitavelmente é formado quando deixam de se fazer existir minguando a alma que já não mais os sente, é um viver morrido viver sem eles.