quarta-feira, 20 de novembro de 2024

O que é o sucesso?

Estava sentada em um banco do charmoso jardim da Estrela, um de meus favoritos em Lisboa, quando passou por mim um homem, ele falava ao celular, escutei um pedaço da conversa que me chamou atenção, ele dizia:  “não quero chegar a uma altura da vida e pensar que fui um músico medíocre”

Quem seria aquela pessoa,

ele nunca vai saber que entrou na minha cabeça e me fez questionar como as pessoas estão sempre a busca de não querer “errar”, de não querer se “frustrar”, como é dura a cobrança da vida, seja consigo ou com o outro, pensei

Tive o ímpeto de ir atrás dele na tentativa de ouvir um pouco mais da conversa - não fui- senti uma aflição, por ele, por mim, pelas cobranças a nós imputadas da eterna perfeição e de sucesso.

“Um músico medíocre” como é forte essa afirmativa , trás a certeza do não agradar, do não alcançar a meta, e que momento da vida será esse que ele marcou para saber se atingirá ou não a performance, será que cabe algum adiamento? Queria ir até ele , bater-lhe as costas e dizer: pare com essa cobrança e viva sua vida a cada dia, comemore cada conquista, desapegue-se do querer acertar e toque seu instrumento, seja ele qual for. Mas não fiz isso, voltei a contemplar o jardim e olhei-o mais uma vez, de longe, 

Será que ele vai alcançar sua performance ? Pensei e abri um livro que havia levado e fui viver o meu momento, 

enfim…

terça-feira, 5 de novembro de 2024

A espera

 Acordei, abrir os olhos, não me mexi, fiquei imóvel, a  espera da vida me chamar a ir ao seu encontro,

 - o chamado não veio-,

Voltei a dormir, não fechei os olhos, atenta aos movimentos,

Tornei a acordar, nada, silêncio total, - será que ela achou que havia eu desistido?- pensei,

concentrada fiquei à espera, não recebi nenhum aviso, nenhum sinal.

Será que perdi a hora, não é possível, -levantei - silêncio , casa vazia, os móveis empoeirados, 

olhei-me no espelho ao pé da porta da sala , 

…a figura refletida era triste, enrugada, pálida, não a reconheci. Um burburinho vindo do lado de fora me levou até a janela, 

a vida estava a dançar no quintal, bela e faceira, sorriu ao me ver e acenou. 

 - “porque não me chamaste, estou aqui a te esperar há tanto tempo” Gritei.

“Eu sempre estive aqui , não me ouviste por que estavas à esperar que fizeste por ti o que só tu és capaz”, ela disse 

Apontei a mão na sua  direção e parei ao ver meus dedos enrugados 

Voltei  ao espelho- encontrei um rosto seco- “como é possível?” 

-Quebrei o espelho -

Corri em busca  da vida, mas ela ja havia partido, 

a perdi no tempo da espera e nem sequer consegui que me tivesse avisado.

terça-feira, 22 de outubro de 2024

Outono

A noite chegou de mansinho,

Sem fazer alarde,

Gosto da escuridão

Ameniza meu pranto da solidão,

O dia me atormenta com sua ansiedade de acontecer, prefiro a calma noturna que mergulha na escassez da luz

Enquanto meu corpo dormia, meu ser mergulhou no abraço dos ávidos desejos

Levantei, olhei-me no leito do descanso, alheia aos acontecimentos da alma que ora despertava.

Saí

A noite me sorriu,

A cada passo as pedras da rua se abriam para me dar passagem.

Havia alguém a me observar do outro lado da esquina,

-apontou-me um caminho-

não olhei, mas segui o caminho apontado,

não sabia qual era nem aonde me levaria- mas segui- não importava

Livre, mas presa no medo de querer seguir,

Livre, mas presa no temor da pergunta calada, abafada no fundo da boca do corpo deixado no leito

O amanhecer pairava na curva de minha dúvida - corri sem olhar para trás e mergulhei nos últimos raios noturnos que ainda restavam...

quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Meus silêncios

 Meus silêncios gritam pelas certezas que não possuo,  não vejo, 


-não quero ver-

- não quero ter- 


certezas para que? Certezas se aprisionam em definições.

 Quero a dúvida, me perder, andar sem chegar, voar sem aterrizar. 

Quero cair , arranhar, sangrar, sentir a dor da imperfeição, escrever e apagar quantas vezes se fizer presente a dúvida que me move a seguir na busca do que não tenho ideia do que seja, mas alimenta meu ser ávido de viver.


Desconstruí uma forma pré-moldada do meu eu, tão engessada, mas tão “perfeita” que nem sentia a paralisia causada. Padrões pre definidos , amarras sem nó, prisões sem grades…

entorpecimento de uma mente  livre que acreditava ser presa, mas presa por quem? 

Onde será que estavam as chaves da prisão sem grades?

terça-feira, 27 de agosto de 2024

Sou uma vertente oposta de mim mesma

 Sentei de frente, para me ver bem nos olhos. 

Converso comigo, 

faço várias perguntas, rápido para não me dar tempo a respostas. 


Atropelo o pensamento e me satisfaço com o vazio da fala, 

-gosto do nada que preenche meus vazios-,


Levanto e vou fazer café , - quer? 

-ofereço-me , não espero a resposta, tomo a bebida quente e forte sozinha 


-egoísta - 


adoro a cara de espanto que faço ao me ver tomar a última gota do café, pousar a xícara na pia e sair sem me olhar . 

 

Volto para sala e me chamo, 

-senta aqui- 

-sento- 


me irrita ver tamanha resiliência, nunca uma expressão de raiva - não pode ser normal.


 Falo coisas sem importância, como se vai chover, fazer sol… essas desinteressantes falas, 


- me mantenho calma e passiva, só a espera . 


Mas à espera de que, mulher ? Levanta daí, dai-me um tapa! Reage!


O sorriso em minha direção frustra a reação que espero. 


Saio e bato a porta com força e não olho para trás, para não correr o risco de me ter ao meu lado. 

domingo, 18 de agosto de 2024

Meus silêncios

Meus silêncios gritam pelas certezas que não possuo, não vejo,

-não quero ver, 

-não quero ter- 

certezas para que? 

Certezas se aprisionam em definições. Quero a dúvida, me perder, andar sem chegar, voar sem aterrizar.

Quero cair, arranhar, sangrar, sentir a dor da imperfeição, escrever e apagar quantas vezes se fizer presente a dúvida que me move a seguir na busca do que não tenho ideia do que seja, mas alimenta meu ser ávido de viver.

Desconstruí uma forma pré-moldada do meu eu, tão engessada, mas tão “perfeita” que nem sentia a paralisia causada. Padrões pre definidos , amarras sem no, prisões sem grades…

entorpecimento de uma mente livre que acreditava ser presa, mas presa por quem?

Onde será que estavam as chaves da prisão sem grades?

Por que escrevo?

Não sei, mas escrevo.

Escrevo na calmaria da minha sala, no caos da bagunça da casa por arrumar,

no meio do almoço por fazer,

Na alegria do acordar e na preguiça do dormir,

Não sei por que escrevo

Talvez por não poder não escrever

A escrita me toma e eu a ela

Me treme as pernas, formiga-me a língua, arrepia-me a nuca, dói-me a cabeça, aperta-me o coração, embaça meus olhos, transborda-me a alma, -é paixão, amor, raiva, tristeza ,alegria…-I n q u i e t a ç ã o-

Não é minha a posse da atitude, sou serva das linhas que me escorrem pelos dedos e preenchem as páginas que voam na busca de serem lidas

A palavra se impõe, se exibe, se doa

Por que escrevo?

Ainda não sei, mas sei que não posso deixar de escrever