quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Sofrer pela resposta da pergunta que não foi feita

Sofrer pela resposta da pergunta não feita só serve para causar desgaste da mente e da alma, o que poderia ser evitado com a “simples” ação de fazer a pergunta, que teria como consequência a tão almejada resposta dando ou não sentido a toda aflição.
 
A mente humana tem a capacidade de gerar ansiedades que, infelizmente na maioria das vezes, se norteiam para o negativo no aguardo pelo pior. Mas o que afinal é isso? Por que esperar pelo o oposto ao que é de fato desejado se sempre existem duas alternativas? Seria proteção? Tentativa de amenizar o desapontamento, caso a resposta seja negativa? Ok, mas jogar todas as energias na preservação acaba com a espera pelo positivo que também faz parte das opções. Se preparar para o indesejado, protege da decepção, mas impede de se almejar o que realmente se quer e de viver as emoções de sua espera. Abrir espaço para as frustrações também abre para as conquistas e alegrias do viver.
 
Viver é perigoso, é difícil, mas alguém algum dia disse que seria fácil? Quem foi o mentiroso? Se achar corra dele, não é seu amigo.
 
Viver, viver mesmo, requer correr riscos, colocar a cara a tapa para apanhar, mas também para receber carinho e afeto.
 
Faça a pergunta antes de tentar respondê-la, essa tarefa só cabe a quem é realmente o senhor da missão de respondê-la e não a quem a questão precisa ser respondida.
 
Faça a pergunta, a resposta pode ser surpreendente.
 
Faça a pergunta, sem isso a resposta nunca será sabida.
 
Para cada pergunta há no mínimo duas respostas e mesmo que a que vier não seja a esperada, com certeza vai responder a todas as outras perguntas que vão sendo geradas na tentativa de responder a pergunta original e também vai dar fim a alucinante angustia que essa insana tentativa pode causar.
 
Faça a pergunta e de o direito ao interrogado de respondê-la.

domingo, 22 de dezembro de 2013

Não e ponto.


Não!

Difícil de dizer, nossa, por vezes pode parecer até mesmo um palavrão, um absurdo, principalmente quando não se está acostumado a negar nada a ninguém, somente a si próprio.

O não está, erroneamente, associado à negação, a aspectos negativos, quando pode ser somente a expressão de uma falta de vontade, uma escolha diferente da que os outros esperam, um grito de liberdade.

Difícil de dizer e mais complicado ainda de ser mantido e defendido em proveito próprio.

Não, pode ser sinônimo de sim quando é dito em prol de algo que não se quer em busca daquilo que realmente se almeja.

Palavra de coragem para poucos que têm fibra de dizer e senti-la verdadeiramente e lutar por ela a favor de si e não contra ninguém.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Nada muda

O tempo passa, mas nada muda, pode até dar uma mexidinha, mas não se altera.

Esta semana encontrei com amigas de anos atrás que já não via há muito tempo e por incrível que pareça foi como se o tempo não tivesse passado. Estávamos, é claro, mais velhas... quero dizer: com os cabelos pintados, sabe aquela máxima: “mulher não fica velha fica loura”, pois é. Enfim, as marcas do tempo são inevitáveis, por mais que o mundo da cosmética tenha evoluído, graças a Deus, e nos ajudado durante o decorrer dos anos, mas dava para notar que não éramos mais as adolescentes de anos atrás. Mas se fosse possível chamarmos aquelas meninas, que um dias fomos, para observar nosso encontro, duvido que tivessem alguma duvida de quem se tratavam, um pouco mais maduras, mas as mesmas pessoas.
Os mesmos comportamentos, trejeitos e afinidades, tudo aflorou no instante em que nos vimos como um toque no tempo adormecido durante todos os anos que ficamos distantes.

Cada uma com sua bagagem, sua história, dificuldades e felicidades vividas, mas com a mesma energia que nos aproximou no passado e foi como se tivéssemos voltado aos anos dourados da adolescência.
Mas o tempo, cruelmente, mais uma vez passou e quando demos por conta já era hora de ir, de retornar as vidas construídas fora daquele universo de memórias e recordações tão docemente revividas naquele curto momento. Partimos com gosto de pouco e de querer mais, mas com a certeza que o tempo urge, mas que nada muda, a vida vai e vem e ao retorno dos sentimentos retorna.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

No meio do nada dentro do tudo

O que será que faz com que alguém se sinta exatamente no centro do nada em uma época que tudo está ao alcance da ponta dos dedos? Basta um clique e pronto: o mundo a seus pés... ou melhor na palma da mão.

Contraditório, mas tão real que se pode quase tocar o vazio de emoções que a vida, dita moderna e pratica, pode causar a quem almeja mais do que simplesmente ter as mais nobres tecnologias jogadas a cada segundo no mundo que atrai, encanta, mas não satisfaz. A todo o momento um novo aparelho, um novo atrativo, um novo novo que promete o verdadeiro paraíso que se desfaz no minuto seguinte, feito cortina de fumaça, dando lugar a próxima maravilha lançada. E em busca do “mais completo” se vai seguindo com a desculpa de querer estar atualizado. É fato que o tempo urge e não se pode ficar para trás, as atualizações são bem vindas e necessárias, afinal o desejo é viver dentro do mundo e não se isolar em uma deserta ilha alheio as evoluções, até aí tudo bem. Mas e os sentimentos, as relações entre humanos, o toque, o olho no olho onde é que ficam? Onde se encaixam no meio de toda essa evolução? Será que daqui a algum tempo até o amor virtual vai ser mais almejado do que o presencial? Que os relacionamentos vão se limitar ao clique do botão mais próximo? Onde é que se perdeu a ternura do olhar, o prazer do ouvir a voz, que deram lugar a troca de textos frios, mal escritos e sem a energia do contato físico cada vez mais deixado de lado.


Os benefícios da praticidade do mundo virtual são extremamente bem vindos, viva! Que venham, mas que não acabem com a paixão do viver deixando em seu lugar simples buscas pelo mais perfeito confinadas em caixas de vento desprovidas da pulsação do sangue na veia que faz com que o coração pela boca queira sair e o mundo querer conquistar.

 Pergunta de um cibernético carente do mundo real:

Qual aplicativo deve se baixar para encontrar as seguintes funções: o brilho no olhar, o arrepio do toque, o calor do abraço e todas as emoções contidas no universo das relações presenciais? Será que alguém aí conectado pode me ajudar? Estou pesquisando há horas e não encontro, acho que devo ter deixado de baixar alguma atualização no meu ultra, supra sumo equipamento de altíssima geração.


Por favor, se alguém souber qual aplicativo, não deixe de informar!!!


E assim a vida segue...

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

De onde será que sou?

Corria eu pela praia em uma manhã de primavera ainda com os ares frígidos da madrugada recente. O vento úmido cortava-me o rosto à medida que por dentro dele atravessava em minha árdua tarefa. Após uma meia hora o Sol, finalmente, começou a distribuir seus calorosos raios dissolvendo os efeitos desconfortáveis do gélido amanhecer. Como que desprendida de meu corpo, que corria insanamente pela pista, me pus a apreciar o mar que reluzia enigmático contrastando com as espigas de concreto estendidas do outro lado da rua e em um lampejo dei de cara com o movimento do dia já a todo vapor e vi a grande questão se formar diante de mim: de que mundo eu faço parte? Ou a qual deles quero pertencer? De um lado toda natureza solitária e imponente e de outro os desejos de conquistas e competições que aliciam e encantam. Mundos se misturam a todo instante, universos diversos, de realidades cristalinamente distintas, se confundem e cobram posições de posturas, de escolhas, como se obrigatório fosse optar apenas por uma.

Continuei a corre observando os dois cenários a minha volta, respirei fundo e pensei: que me desculpe meu ilustre e talentoso músico poeta Zeca Baleiro, mas não tenho a minha tribo, quero todas, pertenço a todas sou do mundo ou dos mundos que se unem na essência e se diferenciam na forma.

O Sol despontava no imenso céu azul que cobria e inebriava de energia os iguais, porém distintos que começavam mais um dia de suas complexas e simples existências.

 Sou do mundo e ele é de mim...

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Sorte do acaso


Coincidência? Sorte?

Quem sabe até existam, mas ditas em separado não fazem o menor sentido, pelo menos para mim. É claro que você pode e deve achar o que quiser, mas eu não. Prefiro apostar na Sorte do Acaso... Aquela coisa mágica, que, por exemplo, te coloca no lugar certo, na hora certa e te faz dizer a coisa certa para a pessoa certa.

Talvez sejam os astros que confabulam em prol do ato, ou, o que tendo a crer que realmente seja, uma conjugação das energias que se harmonizaram e fazem acontecer.

O fato é que nada acontece simplesmente por coincidência ou sorte, ou pelo menos exclusivamente em nome destas duas facetas.

Tudo tem a sua razão de ser, por mais incompreensível que possa parecer por um primeiro momento ou até por todo o tempo. Pode ser que nunca venhas, a saber, ou, entender o “porque” de um determinado acontecimento. Talvez a elucidação esteja justamente na falta de nitidez, devendo a tão almejada explicação ficar na obscuridade, para preservar o feito.
Que nada acontece sem sua razão de ser eu já sei, mas nem tudo tem uma razão evidente, para se fazer ser.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Resgate de emoções


Pode-se dizer ser um delírio, mas com tamanho apelo do mais desconhecido e profundo inconsciente que querer trazer para o presente às sensações vividas no passado parece ser possível é quase palpável ao ponto de por vezes acreditarmos que basta um pouco mais de concentração para conseguir tal feito. E na ânsia desta busca insana deixa-se de viver e sentir os sentimentos do aqui e agora, que rapidamente se transformarão em passado entrando em nossa louca lista de procura.

Chego a pensar, mas não me atrevo a afirmar, que tal apego seria uma forma de fuga das emoções do hoje, devido à falta de conhecimento do teor das mesmas, sendo mais garantido se apegar as já conhecidas, as já vividas. Porém, esquece-se, ou desconsidera-se que o sentir se transforma com as modificações advindas do passar das paginas do tempo.

O tempo é perene, mas as percepções do que se vive nele são pessoais e não admitem repasse nem tão pouco podem ser armazenadas para serem experimentadas posteriormente. Sentiu, sentiu, não sentiu adeus.

O sol é único, com certeza, mas nunca é visto da mesma forma, cada dia é um dia, se perderes um amanhecer, não terás como vivê-lo novamente.

sábado, 28 de setembro de 2013

A obrigação de ter que gostar de tudo que se faz

Existe uma atmosfera, irritante, que quer obrigar a todos a gostarem de tudo que fazem.

Causa grande espanto e até mesmo pode chocar quando alguém se declara insatisfeito por estar fazendo alguma coisa que até poderia abandonar, mas não o faz por algum tipo de necessidade ou beneficio ou as duas coisas juntas. Mas o fato é que querem empurrar pela goela abaixo do indivíduo o comprometimento de estar inteiramente satisfeito com tudo que faz. Acho que esta síndrome está diretamente ligada à necessidade de ter que estampar aos quatros ventos a tal da felicidade plena e absoluta, sem direito a nenhum desnível de humor.
Mas aqui entre nós, só entre nós: nunca teve aquele dia, por exemplo, que desejou qualquer outra coisa a ter que ir trabalhar por mais que ame sua profissão? E a academia? Já não lhe ocorreu que poderia ser muito mais agradável estar seja lá aonde do que em cima daquela esteira maldita, mesmo que sua terrível e cruel consciência não lhe permita desistir dela? Ou qualquer outra coisa que precisou fazer, por qualquer que tenha sido o motivo, que já teve vontade de correr no sentido contrário, mas simplesmente não o fez e ficou ali para realizar a tarefa indesejada, mas que lhe trás algum benéfico e por isso não desistiu?

Aponte-me um, pelos menos um SER sequer que nunca tenha enfrentado as perguntas internas do fazer ou não fazer algo, lutando com os sentimentos de não gostar com o de ter que fazer e que não tenha optado pelo segundo? 
Por que é tão espantoso quando se admite: - Não eu não gosto de fazer tal coisa, mas faço. Fico a pensar o que será que assusta mais, se é a “insanidade” de se fazer algo que não se quer ou se é a coragem de admitir tal feito que esta atrelada com a consciência de que a vida não tem é nada de perfeito.
 

sábado, 21 de setembro de 2013

O passado não volta...


“-É claro que não!” Diria se visse tal tema estampado como titulo de um texto ou em qualquer outro lugar. Mas se parasse e analisasse pausadamente a busca constante pelas sensações um dia vividas e perdidas no passado, admitiria não ser tal título tão clichê assim.

Por várias e inúmeras vezes se quer, insanamente, resgatar emoções sentidas no passado e com isso perde-se a oportunidade de viver as que estão a se apresentar no aqui e agora, no presente que rapidamente será também passado, sem nem ao menos serem notadas e desfrutadas.

A necessidade de reviver o que um dia foi é tamanha que o prejuízo causado a alma e a própria carne de sentirem o que seria direito de seu prazer sequer é notado.

“-Que pena...” Ela lamenta depois de se dar conta e quando nada mais haverá por fazer. Pois o presente já será passado, o futuro não terá mais tempo de um dia se tornar presente e o passado só lhe servirá como consciência de todo tempo que ficou perdido em uma esfera atemporal impossível de ser retomada.

domingo, 15 de setembro de 2013

E o amanhã? Quando chegará?


Estava eu, dirigindo tranquilamente tendo a meu lado um menino de treze anos, quando de repente meu parceiro de viagem dispara a seguinte afirmativa: “- O amanhã nunca chega, não existe. O que existe é o presente.” Fiquei surpreendida com aquela declaração que veio, aparentemente, do nada, pois nossa conversa não tinha nenhuma relação com o assunto. Fiquei olhando para aquele ser tão puro e jovem, ao qual eu julgava ainda tão criança e me emocionei com sua sensibilidade e lhe perguntei o porquê de sua definição tão categórica e ele complementou: “- Quando o amanhã chega já é presente. A gente nunca vai ver o amanhã, estaremos sempre no presente.” Fiquei de fato sem palavras mediante a simplicidade em definir algo tão claro, mas que passa pela sombra da utopia que o mundo vai embutindo nas mentes humanas à medida que amadurecem. E sem ter mais o que questionar, concordei com ele.
Seguimos nosso trajeto conversando sobre várias outras coisas e a questão amanhã – presente se dissipou no caminho, mas não na minha mente e desde então estou a pensar sobre o assunto e principalmente pela maneira tão simples e direta que foi colocada pela aquela criatura que começa a descobrir o mundo e suas entranhas.
Olho-me no espelho e me pergunto em que lugar está o amanhã? A que horas ele chega e a que tempo pertence? E o que devo fazer com todos aqueles projetos que estão sendo trabalhados e aperfeiçoados milimetricamente em busca de ficarem perfeitos para serem vividos no amanhã? Um amanhã que nem sei onde fica e quando chegará. E com meu lado emocional embriago de todo meu idealismo chego à seguinte conclusão: - vou rasgar meus projetos e dar o braço ao meu sábio mestre de treze anos e viver o hoje, o aqui e agora e deixar o tal amanhã para que o futuro, aquele cara incerto que adora aquele outro, o quando, se entenderem e tratarem eles de esperarem pela incerteza do imponderável. Mas volto ao espelho e olho-me mais profundamente com meu lado razão que aos poucos foi crescendo a medida que o idealista foi sendo engolido pela dita “maturidade” e me pergunto: -Ah.. vais fazer isso mesmo? Tens coragem de enfrentar todos os teus porquês que vivem a te cobrar o que farás no tal amanhã?...
Aí me da uma vontade danada de ter meus treze anos de volta e com ele toda minha dispensabilidade de precisar insanamente que este imprevisível amanhã chegue com as respostas que não consegui obter no meu sabido hoje.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Pela Vida


Ando pelas ruas e me pego a observar os transeuntes que vão e que vem. Alguns com a pressa da busca, outros com a calma do tempo por preencher, cada um com sua história, dúvidas e anseios. E sempre fico olhando para todos eles, como uma mera espectadora, querendo, se possível fosse vê-los por dentro, tentando ler o “livro” da vida de cada um, entrar no universo único que cada ser é dono e senhor absoluto e que ninguém pode adentrar. E no meio de minha procura insana coloco-me a parte do mundo como se a ele não pertencesse e pudesse simplesmente assisti-lo e decifrar os enigmas que passam diante de meus olhos.

São vários mundos misturados em um só, que não se juntam nem se separam. São vidas que se cruzam sem que nunca tenha, sequer, se olhado e passam lado a lado sem comoção, sem apreço, sem nem um olhar de esguelha e com uma frieza capaz de congelar a própria insensibilidade.

Seres aflitos perdidos no meio da multidão que cumprem sua trilha reta e rígida e com seus antolhos se contradizem com a necessidade urgente de exterminar a solidão sufocante e crescente que contamina os que seguem sem olhar em torno.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Generosidade


A generosidade não é uma qualidade que se pode adquirir ao longo da vida, ou se tem ou não. É como um sinal que vem gravado no coração de quem a tem.

A generosidade é uma doçura no viver, é um desprendimento de necessitar provar que se está certo, mesmo quando se está, para dar lugar a um bem maior. É um viver desgarrado dos conceitos pré-estabelecidos de certo e errado.

Generosidade dissipa conflitos e acalenta a alma e o coração de quem tem a dádiva de possuir esse sinal de nascença.

A generosidade amplia os horizontes porque vê além do alcance dos olhos. É um doar sem espera.  

A generosidade supera raivas, ressentimentos, angustias, pré-conceitos, atitudes e fatos, para buscar o mais apropriado para atingir a satisfação de quem carece ser atendido.

Generosidade é sinônimo de doação sem necessidade de receber agradecimento.

terça-feira, 23 de julho de 2013

Fé...


Mas o que é a fé?

Tem a ver com religião? E os que não seguem nenhuma? Não têm fé?

Ou estaria a fé ligada as certezas defendidas pelas verdades individuais de cada um? Podendo ser mutável, incerta e até mesmo variável?

O que é de fato a fé? Uma crença, um objetivo, um caminho?

Perguntas com inúmeras respostas dependentes unicamente de quem as responde, não sendo, no entanto, as respostas excludentes. E é por isso que não ousou aqui ter uma definição para tema tão vasto e polemico, atrevo-me somente a puxar das fichas que trago em minha cartola de convicções, uma que dá a fé como sendo um combustível para não me deixar desistir quando todos os caminhos parecem se torcer e as portas se fecham, é um acreditar que é possível continuar a crer mesmo sem porque aparente. Fé é estar aqui, ali, acolá, fé é querer...

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Incompleto...


Procuro, procuro, por vezes até acho, mas perco em seguida.

Angustia me dá, mas não desisto.

Coisa complicada essa de viver, uma vírgula muda tudo e transforma o que era nada em uma infinidade de opções. E o ponto então? Que dá a ilusória sensação de estar tudo resolvido, quando na verdade é apenas o impulso para uma nova etapa.

Não pensou que fosse fácil o pobre ser que ousou, simplesmente, viver e nada mais. Mas nem de longe poderia imaginar que para atravessar o caminho, que vai do abrir os olhos pela primeira vez, ao fechá-los definitivamente, pudesse ser tão cristalinamente complexo. Isso porque ele queria passar pela vida, vivendo, e não somente cumprir o prazo. Aí dá trabalho!

Mas que coisa difícil!

Mas o ser persiste, e entre vírgulas e pontos, vai driblando os percalços e trilhando o caminho que se apresenta a cada instante que tem a dádiva de estar vivo e vivendo.

Mas sempre estará incompleto, porque tudo sempre é nada no contexto da totalidade.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

A arte de saber doar...


O tempo parece infinito para alguns poucos privilegiados que conseguem vivê-lo com maestria, fazendo com que a idade não passe de simplesmente registro histórico meramente burocrático e marcas que enrugam o corpo, mas não a alma.

Mas como um ser pode viver com vigor e com vontade sem esmorecer mesmo diante de fases árduas, inevitáveis, que surgem sem aviso prévio e prazo de termino? Será que existe tal criatura nesse mundo de meu Deus?

- Utopia! Sem dó nem piedade eu diria sem pestanejar.

E sobre o animo e a paciência? Esses dois nem se fala, nunca pude entender com veracidade os que, heroicamente na minha sarcástica opinião até então, conseguem manter tais dons após viverem anos sem que nada consiga extingui-los, nem sequer diminuí-los.

Pois bem: Tive minhas crenças abaladas quando, mais que por acaso, um programa de TV me chamou atenção. Era sobre o Uruguai, falando sobre belezas e vantagens do País que é muito bonito e bem estruturado, segundo a reportagem. Mas não foi propriamente os atributos uruguaios que me impressionaram, apesar de sem dúvida interessantes, mas sim a declaração do artista plástico, Carlos Páez Vilaró de noventa anos e em plena forma com uma aparência de pura tranquilidade, que me atraiu realmente e me fez parar tudo e prestar atenção no programa.

Ao ser questionado pela repórter de qual seria o segredo para se viver tanto e estar tão bem como ele, ele respondeu sucintamente: - a arte de saber doar.

Ouvi aquilo e me emocionei ao ver aquele velho jovem, que exalava um brilho no olhar de puro bem estar, revelar com tamanha sabedoria e simplicidade o segredo para a conquista de um  bem tão almejado pela humanidade. E me deparei com meus questionamentos internos da dificuldade da doação, da real entrega que é uma via de mão única, que acredito ser a que se referia nosso caro Carlos, aquela que nada quer, que se dá sem nada esperar, só desejando o puro prazer da desprovida doação. A mais simples e a mais complexa ao mesmo tempo. E desde então estou me perguntando o porquê de tamanha dificuldade.

Por quê?

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Saudades...


Tenho saudades de tantas coisas...
De pessoas, de momentos, de objetos, de gostos, de cheiros, até de mim às vezes tenho saudades, de um eu que ficou guardado deixado para trás, para quando tiver tempo de viver, um tempo que nunca chega.

Tenho saudades da irreverência, da ingenuidade, da falta de malicia, do poder confiar, do poder acreditar, de não precisar desconfiar, de poder dar as mãos e caminhar de olhos vendados e crer que está sendo levada e amparada.

Saudades de sentir o vento sem em nada ter que pensar e planejar.

Saudades da época antes de ser apresentada ao compromisso do ter que perseguir o certo irmão do perfeito e primo da frustração.

Tenho saudades até de sentir saudades...

Acho que o que eu tenho mesmo é medo de não sentir mais saudades...

sexta-feira, 21 de junho de 2013

...

Quando era criança, achava que o mundo era grande o bastante para ser impossível todo ele conhecê-lo, que o tempo era infinito e que o bem sempre venceria o mal incondicionalmente, sem que nada precisasse ser feito para tanto.

Pois bem, foi crescendo e começou a achar que o mundo era grande, mas não tanto, que o tempo era muito, mas não infinito, mas sobre o mal continuou com as mesmas convicções de que o mocinho sempre venceria no final.

Mais uns anos se estenderam e o mundo ficou pequeno, o tempo escasso e veio a certeza de que as atitudes fazem a diferença, que não há vencedor entre o bem e o mal e sim respostas e consequências que serão dadas em de acordo com os caminhos seguidos e as atitudes tomadas, que a vida é árdua, mas é bela.

E os anos continuaram mais e mais e a vida viveu a cada dia, o mundo voltou a ser grande, o tempo retornou ao infinito, as respostas suplantaram as perguntas feitas durante todo o seu viver e ela se foi no vento.

O vento sobrou, rodou o mundo na sua grandiosidade e na infinidade do tempo e voltou e ela com ele retornou, olhou, sentiu e gostou e escolheu recomeçar tudo de novo outra vez de um jeito único que cada existência tem.

Nada é igual, mas tudo se repete.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Minha sandália amarela

Ela sempre foi clássica, conservadora... eu diria que até mesmo rígida e inflexível, sobre tudo com ela mesma.

No guarda roupa a ordem era: preto e branco. “- Ah... é mais prático combina com tudo...” Ela dizia, embora adorasse vermelho.  No máximo se permitia a um bege, um marronzinho e de quebra um cinza, nada além disso. Com os sapatos a regra não admitia exceção, somente os fechados e pretos tinham licença para entrar na sapateira milimetricamente dividida e arrumada por ordem que seriam usados durante a semana.

Clássica, bem vestida sem dúvida, mas tão sem cor... Era quase tão sem emoção quanto seu guarda roupa, nenhuma novidade era consentida, nada que pudesse abalar o seu tão previsível viver.

Um belo dia lá ia ela toda elegante do alto de seus sapatos, pretos com certeza, e seu terninho muito bem passado e engomado, preto com leves ricas brancas, quando de repente algo em uma vitrine lhe chamou a atenção e ela deu dois passos para trás e parou em frente a loja por alguns segundos, mas balançou a cabeça e seguiu repetindo para si mesma: “- Não, não... aonde é que vou usar isso? Não combina com nada do que eu tenho. Não!” Mas não resistiu, deu meia volta e ficou parada em frente a vitrine da loja olhando fixamente seu objeto de desejo proibido: uma sandália amarela. Para ela aquilo era quase uma heresia, primeiro por ser uma sandália e depois e pior: era amarela, imperdoável. Mas, mesmo se sentindo como prestes a cometer um pecado mortal continuou olhando até que uma daquelas “agradáveis” vendedoras veio ao seu encontro: “- Posso ajudar senhora?” Sua primeira reação, após o inevitável susto que levou dado ao seu estado de total entrega aquele momento onde no mundo só existiam ela e a sandália amarela, foi dizer que só estava olhando e tratou de sair dali, mas não deu nem dois passos e retornou, entrou na loja quase que se escondendo para não ser vista por ninguém e pediu a vendedora para ver a sandália dizendo que iria dar de presente a uma amiga que usava o mesmo número que ela e por isso queria experimentar. Pois bem, ela comprou a sandália.

Chegou em casa abriu o guarda roupa e diante da visão alvinegro pensou:   “- E agora com que roupa eu vou usar isso?” Depois de ficar um longo tempo a contemplar sua  sandália amarela a colocou na sapateira junto com seus inúmeros sapatos pretos. A sandália parecia um sol no meio de seus companheiros que a receberam muito bem dando uma chegadinha para o lado para dar lugar a nova companheira.

No dia seguinte, acordou cedo, tomou um demorado banho, secou os cabelos, fez uma leve maquiagem e foi escolher o traje do dia. Fez tudo como fazia todas as manhãs.

Saiu radiante pelas ruas, achando que todos estavam olhando para ela e quando chegou ao seu destinou, antes de entrar no elevador, parou e se contemplou no espelho e gostou do que viu: Uma mulher feliz que usava um impecável terno negro e uma linda sandália amarela e pensou: “- Acho que vou comprar uma blusa vermelha.”

Colorir a vida não faz mal a ninguém. Que tal comprar a sua sandália amarela?

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Incertezas

Todos os dias, insisto na árdua missão de me reconstruir e me deparo com a decepcionante conclusão de que ao final estou mais desconfigurada do que quando comecei. 

Tento com cuidado, coloco cada peça no lugar, que penso ser o certo, bem devagar para não cair, não desmontar e quando tudo parece perfeito, alinhado, vem um vento não sei de onde e coloca abaixo minha linda e frágil pirâmide do ilusório universo da vida modular dita perfeita. 

Diante de todas as partes derrubadas tenho que respirar e começar tudo de novo outra vez. Vou de peça em peça, pedaço por pedaço, procurando os encaixes que teimam em se modificar. 

Tento insistentemente, por mais que a vida me diga que não cabe neste modelo, formata-la em um único patrão. Por quê? Eis a questão. Por que fazer a pergunta quando já se sabe a resposta? Talvez por medo de admitir que se gosta justamente da inexistência da exatidão e o que se quer são as incertezas...

terça-feira, 2 de abril de 2013

A vida só surpreende quem surpreende a vida


A vida começa, vive e acaba. Simples assim. Uma linha a ser seguida, onde o inicio e o fim são certos, mas o decorrer vai depender de quem a percorre que poderá fazê-la ser reta ou não.
Pode-se fazer o caminho de uma extremidade a outra cumprindo o destinado sem surpresas, sem sobressaltos, sem “riscos” e no final apagar as luzes, sair e dar a missão como realizada. Ou pode-se querer mais que o previsível e ousar abrir portas não autorizadas, se sujeitar ao erro e continuar querendo mesmo depois que a luz se apaga.
 
A previsibilidade leva ao rumo do infortúnio da mesmice sem susto de escapar da trilha, mas sem nada mais a esperar do que o traçado na concepção do inicio do começo do fim. Todos os “ses” serão fadados ao despenhadeiro e levarão junto às emoções não sentidas.
A vida é uma mola que devolve o que lhe é dado, um espelho que reflete o desejo de quem a olha que vai depender de como e quando se olha.
 
Mudar de rumo, torcer a reta e fazer a curva, pode levar a caminhos desconhecidos, porém surpreendentes que jamais seriam vividos e sentidos se a ousadia de fazer a curva fosse deixada de lado dando lugar ao conforto de pela estabilidade da reta seguir.