Tentei ser o que não fui,
fazer o que não fiz,
sentir o que não senti,
viver o que não vivi,
ser o que nunca poderia ser pelo simples fato de não ser o que achei que seria se fosse o que queriam que eu fosse .
Mas fui apenas eu e nada mais …
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Tentei ser o que não fui,
fazer o que não fiz,
sentir o que não senti,
viver o que não vivi,
ser o que nunca poderia ser pelo simples fato de não ser o que achei que seria se fosse o que queriam que eu fosse .
Mas fui apenas eu e nada mais …
O silêncio me acordou aos gritos ,
Alto e forte, mas não se fez entender.
Sentei-me com ele na sala, nos encaramos, ele nada disse.
Preencheu todos os cantos, cada fresta foi ocupada pelos gritos daquele silêncio mudo, ensurdecedor, calado a me ver padecer na espera.
“O que queres?” Perguntei, no auge de minha angústia, ele levantou me olhou , gritou mais alto e cruel ,”diga-me você , afinal eh você que está a me escutar”
Andei por caminhos difusos, arenosos, confusos, achei não ter opção de mudar meu rumo, mesmo por vezes saindo da trilha - sem saber que saia-
Vivi um bom tempo escondida de mim, dentro de um eu avesso ao meu.
Me escondi tanto que um dia achei ser quem não gostaria de ser e talvez, só talvez, isso tenha me dado a falsa proteção de descobrir quem eu era . Não mais importa ter a certeza - Hoje sei quem sou porque passei por todas as etapas que me trouxeram até aqui.
Despretenciosa, mas ansiosa, cheguei a janela em busca do que não sabia ser a jornada mais criativa e intensa de uma era. Juntei peças dispersas, encaixes improváveis, abri caixas empoeiradas, escondidas em lugares não sabidos e alcancei a estrada sem saber o destino e talvez isso tenha sido o atrativo. Sem me importar com o porto e nem ao menos se haveria um. Já dizia, não sei quem falou, mas é certo que ouvi em algum lugar - vale o caminho que a chegada-
Estava sentada em um banco do charmoso jardim da Estrela, um de meus favoritos em Lisboa, quando passou por mim um homem, ele falava ao celular, escutei um pedaço da conversa que me chamou atenção, ele dizia: “não quero chegar a uma altura da vida e pensar que fui um músico medíocre”
Quem seria aquela pessoa,
ele nunca vai saber que entrou na minha cabeça e me fez questionar como as pessoas estão sempre a busca de não querer “errar”, de não querer se “frustrar”, como é dura a cobrança da vida, seja consigo ou com o outro, pensei
Tive o ímpeto de ir atrás dele na tentativa de ouvir um pouco mais da conversa - não fui- senti uma aflição, por ele, por mim, pelas cobranças a nós imputadas da eterna perfeição e de sucesso.
“Um músico medíocre” como é forte essa afirmativa , trás a certeza do não agradar, do não alcançar a meta, e que momento da vida será esse que ele marcou para saber se atingirá ou não a performance, será que cabe algum adiamento? Queria ir até ele , bater-lhe as costas e dizer: pare com essa cobrança e viva sua vida a cada dia, comemore cada conquista, desapegue-se do querer acertar e toque seu instrumento, seja ele qual for. Mas não fiz isso, voltei a contemplar o jardim e olhei-o mais uma vez, de longe,
Será que ele vai alcançar sua performance ? Pensei e abri um livro que havia levado e fui viver o meu momento,
enfim…
Acordei, abrir os olhos, não me mexi, fiquei imóvel, a espera da vida me chamar a ir ao seu encontro,
- o chamado não veio-,
Voltei a dormir, não fechei os olhos, atenta aos movimentos,
Tornei a acordar, nada, silêncio total, - será que ela achou que havia eu desistido?- pensei,
concentrada fiquei à espera, não recebi nenhum aviso, nenhum sinal.
Será que perdi a hora, não é possível, -levantei - silêncio , casa vazia, os móveis empoeirados,
olhei-me no espelho ao pé da porta da sala ,
…a figura refletida era triste, enrugada, pálida, não a reconheci. Um burburinho vindo do lado de fora me levou até a janela,
a vida estava a dançar no quintal, bela e faceira, sorriu ao me ver e acenou.
- “porque não me chamaste, estou aqui a te esperar há tanto tempo” Gritei.
“Eu sempre estive aqui , não me ouviste por que estavas à esperar que fizeste por ti o que só tu és capaz”, ela disse
Apontei a mão na sua direção e parei ao ver meus dedos enrugados
Voltei ao espelho- encontrei um rosto seco- “como é possível?”
-Quebrei o espelho -
Corri em busca da vida, mas ela ja havia partido,
a perdi no tempo da espera e nem sequer consegui que me tivesse avisado.
A noite chegou de mansinho,
Sem
fazer alarde,
Gosto
da escuridão
Ameniza
meu pranto da solidão,
O
dia me atormenta com sua ansiedade de acontecer, prefiro a calma noturna que
mergulha na escassez da luz
Enquanto
meu corpo dormia, meu ser mergulhou no abraço dos ávidos desejos
Levantei, olhei-me no leito do descanso,
alheia aos acontecimentos da alma que ora despertava.
Saí
A
noite me sorriu,
A
cada passo as pedras da rua se abriam para me dar passagem.
Havia
alguém a me observar do outro lado da esquina,
-apontou-me
um caminho-
não
olhei, mas segui o caminho apontado,
não
sabia qual era nem aonde me levaria- mas segui- não importava
Livre,
mas presa no medo de querer seguir,
Livre,
mas presa no temor da pergunta calada, abafada no fundo da boca do corpo
deixado no leito
O
amanhecer pairava na curva de minha dúvida - corri sem olhar para trás e
mergulhei nos últimos raios noturnos que ainda restavam...