Ela sempre foi clássica, conservadora...
eu diria que até mesmo rígida e inflexível, sobre tudo com ela mesma.
No guarda roupa a ordem
era: preto e branco. “- Ah... é mais prático combina com tudo...”
Ela dizia, embora adorasse vermelho. No máximo se permitia a um bege, um
marronzinho e de quebra um cinza, nada além disso. Com os sapatos a regra não admitia
exceção, somente os fechados e pretos tinham licença para entrar na sapateira
milimetricamente dividida e arrumada por ordem que seriam usados durante a
semana.
Clássica, bem vestida sem dúvida,
mas tão sem cor... Era quase tão sem emoção quanto seu guarda roupa, nenhuma
novidade era consentida, nada que pudesse abalar o seu tão previsível viver.
Um belo dia lá ia ela toda
elegante do alto de seus sapatos, pretos com certeza, e seu terninho muito bem
passado e engomado, preto com leves ricas brancas, quando de repente algo em
uma vitrine lhe chamou a atenção e ela deu dois passos para trás e parou em
frente a loja por alguns segundos, mas balançou a cabeça e seguiu repetindo para
si mesma: “- Não, não... aonde é que vou usar isso? Não combina com nada do que
eu tenho. Não!” Mas não resistiu, deu meia volta e ficou parada em
frente a vitrine da loja olhando fixamente seu objeto de desejo proibido: uma sandália
amarela. Para ela aquilo era quase uma heresia, primeiro por ser
uma sandália
e depois e pior: era amarela, imperdoável. Mas, mesmo se sentindo como prestes a
cometer um pecado mortal continuou olhando até que uma daquelas “agradáveis”
vendedoras veio ao seu encontro: “- Posso ajudar senhora?” Sua
primeira reação, após o inevitável susto que levou dado ao seu estado de total
entrega aquele momento onde no mundo só existiam ela e a sandália
amarela, foi dizer que só estava olhando e tratou de sair
dali, mas não deu nem dois passos e retornou, entrou na loja quase que se
escondendo para não ser vista por ninguém e pediu a vendedora para ver a
sandália dizendo que iria dar de presente a uma amiga que usava o mesmo número
que ela e por isso queria experimentar. Pois bem, ela comprou a sandália.
Chegou em casa abriu o
guarda roupa e diante da visão alvinegro pensou: “- E agora com que roupa eu vou usar isso?” Depois
de ficar um longo tempo a contemplar sua sandália
amarela a colocou na sapateira junto com seus inúmeros sapatos
pretos. A sandália parecia um sol no meio de seus companheiros que a receberam
muito bem dando uma chegadinha para o lado para dar lugar a nova companheira.
No dia seguinte, acordou
cedo, tomou um demorado banho, secou os cabelos, fez uma leve maquiagem e foi
escolher o traje do dia. Fez tudo como fazia todas as manhãs.
Saiu radiante pelas ruas,
achando que todos estavam olhando para ela e quando chegou ao seu destinou,
antes de entrar no elevador, parou e se contemplou no espelho e gostou do que
viu: Uma mulher feliz que usava um impecável terno negro e uma linda sandália amarela
e
pensou: “- Acho que vou comprar uma blusa vermelha.”
Colorir
a vida não faz mal a ninguém. Que tal comprar a sua sandália amarela?
ADOREI!!!
ResponderExcluirObrigada!!!!
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